FIA de Ariquemes: Transformando vidas

FIA de Ariquemes: impacto social no Projeto Pequeno Príncipe para crianças e adolescentes

Na última semana, conversamos com Maria Neuza, assistente social e gestora do Fundo da Infância e Adolescência (FIA) de Ariquemes. Com o olhar atento de quem conhece de perto as demandas sociais da cidade e região, ela compartilhou histórias de dedicação e conquistas, mostrando como o fundo tem feito diferença na vida de crianças e adolescentes de Ariquemes e Bom Futuro.

O FIA de Ariquemes se destaca porque é o único, em todo o Estado de Rondônia, que conta com equipe própria, infraestrutura completa e dotação específica para atuar.

Esse suporte só é possível, segundo ela, graças à Prefeitura Municipal, que garante autonomia e condições para que o FIA desenvolva suas ações de forma plena, além do apoio de parceiros como a Coopermetal, a Coopersanta e a NBF Mineração, cooperativas de mineração que colaboram para fortalecer os projetos voltados à infância e adolescência.

Com dedicação e sensibilidade, ela mostra que cada passo do FIA é pensado para transformar, de maneira concreta, a vida das crianças e adolescentes da região.

Veja a entrevista.

FIA de Ariquemes
Trabalho da instituição FIA de Ariquemes

1. Para começar, você poderia explicar brevemente qual é a função do FIA em Ariquemes e como ele atua na captação e destinação de recursos para projetos sociais?

A importância do Fundo da Infância no município de Ariquemes é de extrema e real necessidade, porque ele atua como captador de recursos e faz essa distribuição, cofinanciando projetos sociais para as entidades que os apresentam. O interessante do fundo é que ele atua em todas as áreas de políticas públicas, pois tem a atribuição de contribuir para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente. E toda criança e adolescente precisa de saúde, educação, lazer, esporte, convivência familiar, enfim, de todos os serviços das políticas públicas. Então, o fundo não tem uma bandeira específica; ele deve contemplar projetos inovadores, aquilo que não é obrigação direta do Estado. Assim, passa a atuar em projetos dessa natureza.

É algo legalmente instituído, existe há anos, desde a Constituição de 1988, e até mesmo antes, com a Lei 4.320 de 1964. Veja quanto tempo já existe a legitimidade desses fundos. Mas, mesmo em plena vigência, ainda temos pessoas que desconhecem sua existência e não fazem a contribuição ao Fundo da Infância. Vai muito da consciência de cada um. Cada município tem seu potencial — Ariquemes, por exemplo, tem um potencial enorme — mas ainda não conseguimos atingir o patamar de reconhecimento e de destinação adequada de recursos que o fundo precisa.

“Nós temos uma parceria com as cooperativas de mineração que acreditaram no FIA e destinaram recursos importantes. Essa contribuição mostra como o setor empresarial pode fazer a diferença na vida das nossas crianças e adolescentes.”

2. O Projeto Pequeno Príncipe, realizado no distrito de Bom Futuro, é uma das iniciativas apoiadas pelo FIA. Como surgiu essa proposta e o que motivou sua implantação nessa localidade específica?

O que motivou a implementação do Projeto Pequeno Príncipe aqui no Distrito do Bom Futuro, através do Fundo da Infância, foi exclusivamente a necessidade social e o entendimento da importância desse tipo de atendimento às crianças e adolescentes. Somos sabedores de que nossas crianças serão os adultos de amanhã. Se queremos um mundo melhor, precisamos formar adultos melhores — e isso só acontece se cuidarmos das pessoas desde cedo. A saúde mental é a base de tudo na vida de um ser humano, embora muitas vezes seja esquecida ou até mesmo ignorada.

Essa parceria aconteceu juntamente com pessoas e cooperativas que acreditaram na proposta, aceitaram a ideia, e deu muito certo. A motivação maior foi ter conhecimento da necessidade, por eu já atuar aqui desde 2012 e entender de perto a dor das famílias, a dor de não ter sua saúde emocional equilibrada. Isso me motivou a inscrever e implementar o projeto aqui no distrito, compreendendo a situação de vulnerabilidade deles — social, de renda e até de deslocamento. É um custo que não conseguem cobrir, não têm condições de pagar um profissional para atendimento psicológico. Aqui, eles têm esse acesso, e isso faz toda a diferença.

Lembro que, na época, havia pedidos de atendimento psicológico, mas o profissional da Secretaria de Assistência Social só podia oferecer um grupo psicossocial, não atendimento clínico em saúde. E o SUS não cobre isso. Então o projeto veio para preencher essa lacuna. É de muita relevância, muita mesmo. Temos resultados fantásticos aqui.

3. Quais são os principais serviços e atendimentos oferecidos às crianças e adolescentes de Bom Futuro por meio do projeto?

Em Bom Futuro, os principais serviços e projetos que estão sendo desenvolvidos são o atendimento clínico-psicológico e oficinas terapêuticas. Atendemos crianças, adolescentes e também seus familiares, porque a base familiar também precisa de cuidado. Não adiantaria nada trabalhar apenas com a criança e o adolescente se o pai, a mãe, o tio ou o avô, que convivem no mesmo núcleo familiar, não fossem trabalhados. Por isso, fazemos o atendimento clínico com todos.

Além disso, temos ações paralelas, como oficinas terapêuticas e socioeducativas com mulheres, oferecendo cursos, oficinas de crochê e de artesanato. Essa oficina de artesanato é bem diferenciada: chamamos de Do Lixo ao Luxo, pois utilizamos materiais que iriam para o lixo, materiais descartáveis, e os transformamos em peças criativas e muito bonitas. As mulheres gostam de participar: vêm para cá, conversam, se distraem, encontram um passatempo. O projeto acaba se tornando uma segunda casa para elas.

FIA de Ariquemes
Projeto Pequeno Príncipe em Bom Futuro

4. Na sua avaliação, qual tem sido o impacto do Projeto Pequeno Príncipe na vida das crianças, adolescentes e famílias atendidas em Bom Futuro? Você poderia compartilhar algum exemplo ou história marcante?

Os impactos são muitos. Mas veja só a diferença de um projeto social voltado para o socioemocional e de um projeto físico. No projeto físico, você mostra resultados concretos de imediato; já nesse tipo de trabalho, os resultados são subjetivos. Por quê? Porque estão na vida de cada um. Quando alguém recebe apoio psicológico, isso muda o comportamento dele com o pai, a mãe, na escola… mas nem sempre conseguimos registrar, porque é algo muito minucioso.

De forma geral, ouvimos testemunhos que comprovam essas mudanças. A diretora da escola comenta que os alunos melhoraram o comportamento. Pais chegam e dizem: “Meu filho está melhor”. Tivemos adolescentes em depressão, com evasão escolar, jovens que passavam dias trancados em um quarto sem tomar banho, e, depois do acompanhamento com o psicólogo, voltaram para a escola. Situações de bullying também foram resolvidas. Então, o resultado é subjetivo, está na alma e na vida de cada um. Talvez não apareça hoje, mas aparece amanhã, daqui a seis meses, ou até daqui a um ano.

Também tivemos exemplos concretos, muito fortes. Um caso foi de uma criança de um ano que faleceu quando o portão da casa caiu sobre ela. O irmão, de dez anos, estava próximo, e a mãe passou a acusá-lo de ser o culpado pela tragédia. Foi uma situação de muito desespero.

As psicólogas do projeto estavam no Garimpo nesse dia, cancelaram toda a agenda e foram dar assistência à família. Atenderam a mãe, acolheram o pai da criança e, principalmente, o menino de dez anos, porque o trauma maior ficava nele. Imagine: uma criança em pré-adolescência, já com dificuldades de convivência com o pai, carregando o peso de se sentir culpado pela morte do irmão. O atendimento foi de grande valia. Sei que a mãe, que inicialmente rejeitava o filho, saiu do projeto de mãos dadas com ele.

Esse é um exemplo claro da importância de ter psicólogos na vida das pessoas.

5. Sabemos que empresas como a Coopersanta, Coopermetal e NBF Mineração têm colaborado com o fundo. Qual a importância dessas parcerias com o setor privado para viabilizar projetos como esse?

Essa parceria entre o Fundo, a Coopersanta, a Coopermetal e a NBF Mineração é fundamental, porque grandes parcerias se baseiam no comprometimento. E isso a gente percebe, já que temos mais de um ano e oito meses de parceria, sempre com cada um cumprindo seu papel. Tem dado muito certo, tanto que o projeto se tornou um grande sucesso.

Essa parceria é importante para as pessoas do Bom Futuro, para os municípios da região e, de modo geral, para qualquer lugar. Porque quem recebe atendimento aqui pode morar em qualquer parte do Brasil e será uma pessoa melhor em qualquer lugar que esteja.

Portanto, não é só para Ariquemes, não é só para o Garimpo ou para o Bom Futuro: é para a vida, para o universo. Tudo o que a gente faz aqui é pensando no bem comum, no coletivo.

“São praticamente dois milhões e duzentos reais que poderiam ficar em nosso município, mas hoje não conseguimos arrecadar nem 10% desse valor. É uma questão de consciência e de querer bem, porque todos somos responsáveis.”

6. Quais foram os principais desafios enfrentados para a implementação do projeto em Bom Futuro?

Os principais desafios têm a ver com a distância e, muitas vezes, com a própria infraestrutura que o Fundo ainda não tem, porque está começando. Um exemplo é o deslocamento: não temos transporte próprio, e isso dificulta bastante. Para trazer professores, psicólogos ou profissionais para oficinas, enfrentamos muitas dificuldades.

Eu vejo esse como o maior desafio. Queria trazer muito mais coisas para cá, mas não temos estrutura. Também não temos um espaço físico próprio para o projeto. Queremos fazer várias inovações, mas não conseguimos porque ainda não temos essa estrutura.

Portanto, considero como desafios a distância de Ariquemes e a falta de infraestrutura adequada para o projeto.

7. Há planos de ampliação do Projeto Pequeno Príncipe no distrito ou mesmo a replicação desse modelo em outras regiões do município?

Conseguimos um avanço maravilhoso. Na primeira reunião, um dos cooperados me perguntou se eu era efetiva, porque os projetos aqui em Bom Futuro costumam começar e logo acabar. Ele perguntou qual a probabilidade desse projeto continuar. Eu respondi: “Sim, eu sou servidora pública efetiva”, e isso deu segurança para mostrar que o projeto teria continuidade.

Minha primeira oportunidade foi transformar o Projeto Pequeno Príncipe em programa. Hoje, ele está indo para a Câmara para aprovação. A partir de 2026, passará a ter orçamento próprio, sendo incluído no PPA. Isso significa que, dentro de quatro anos, será lei, terá que existir em Bom Futuro. Para mim, isso é um avanço enorme, me enche de energia e luz pensar que conseguimos dar esse passo.

Sobre a ampliação, é um sonho, mas, por enquanto, sem perspectiva, porque demanda recursos, infraestrutura e equipe técnica, que ainda não temos. Hoje, no Fundo, somos apenas duas pessoas. Gostaria muito de implementar outros projetos, mas, por enquanto, não é possível. Há projetos de fomento, mas são de cada instituição do fundo, não diretamente da nossa gestão.

8. Por fim, que mensagem você deixaria para empresas e cidadãos que ainda não conhecem o FIA ou não se envolvem com essas ações? Por que vale a pena contribuir?

A mensagem final que eu deixaria para empresários, pessoas físicas e cidadãos é que a questão social não é do prefeito, do governador, do presidente, do papa ou do pastor. Ela é de todos nós, começa na família. Mas o “fazer” pertence a todos, porque somos um só, um todo nesse universo. Então, se estamos aqui para entrelaçarmos as mãos e vivermos, não vale a pena ficar de fora.

Se a lei permite que tenhamos esse recurso a nosso favor, em prol das nossas crianças e adolescentes, por que não abraçar a ideia e fazer com que ele fique em nosso município? São praticamente dois milhões e duzentos mil reais que o governo federal autoriza ficar aqui, mas não conseguimos arrecadar nem 10% desse valor.

Portanto, é uma questão de consciência e de querer o bem. Ainda existe muito individualismo, essa ideia de que não é papel da pessoa contribuir. Mas, quando a dor bate à sua porta, você repensa duas vezes.

Fonte: ascom

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